Como todas as coisas bonitas que nos acontecem, muitas estão envoltas num manto diáfano...quer de realidade, quer de fantasia...
Do querido amigo José Pinto Casquilho, recebemos esta linda descrição que o Blog publica para deleite de todos os seus leitores e habitantes da Quinta da Carreira, pois as
histórias que quase parecem de encantar têm, quase sempre, muito de real e a nossa Quinta da Carreira pode ser um dos pontos da linha de Cascais que tem um passado rico que, aos poucos e sorrateiramente, começa a emergir das entranhas da terra, qual pepita de ouro de uma história ainda por contar...
O Blog aí vos deixa um relato, na primeira pessoa, para quem tiver olhos para ver, ouvidos para escutar e curiosidade para acompanhar o desenrolar da trama que, seja qual for o final (que esperamos possa ser feliz) dará aso a que talvez alguns dos habitantes desta zona possam tentar relembrar, nas memórias de infância o que viram por aqui e contar à Associação de Moradores da Quinta da Carreira para que a reconstituição do nosso passado remoto, possa ser feita com mais facilidade e autenticidade. As memórias de cada um de vós são preciosas para "colar" os cacos de que se faz a nossa história pessoal e colectiva.
Esta partilha do nosso querido amigo José Pinto Casquilho é uma achega muito grande - ponto de partida do reencontro do passado com o futuro. Aí vai ela...
-------O MISTÉRIO DOS ROMANOS------
-------NA QUINTA DA CARREIRA---------
---------------------Parte 1-----------------------
Esta novela que agora vos conto foi uma surpresa para mim. É uma história que quero partilhar com os interessados no futuro da Quinta da Carreira.
Um dia, há cerca de um ano, um morador afirmou-nos que o aparelho de pedra da ribeira era romano, ou de fundação romana, e a carreira também. Confesso que até então eu só vira as infraestruturas rurais da antiga Quinta da Carreira pensando que teriam um século ou dois – eram as notícias que eu tinha sobre a idade da quinta.
Comuniquei o assunto, interrogando a CMC sobre o que era conhecido no âmbito arqueológico aqui no sítio, e a resposta, emitida por uma técnica da câmara, foi que essa afirmação – de que os aparelhos da ribeira e da carreira seriam de fundação romana - era dificilmente sustentável, e acrescentava não serem conhecidos vestígios romanos encontrados nas imediações.
Ora, fazendo uma investigação documental, descobre-se que mesmo aqui ao lado, perto das Grutas da Alapraia, há registos de 4 pedras com escrita romana gravada – epígrafes, datadas da época de Trajano, que foram estudadas por vários autores de que se destaca a compilação feita por José D’Encarnação. Foram encontradas em três casais ou quinta aqui da vizinhança da Estrada da Alapraia e Areias.
Na Carta Arqueológica de Cascais, de Guilherme Cardoso, vem dito: «Mas o mais curioso é o aproveitamento como silo, da Gruta III de Alapraia, pelos habitantes da villa da Quinta da Bela Vista.» . Ou seja, tal como aparece marcado na referida carta, datada de 1991, existia mesmo aqui ao lado da parte Norte da Quinta da Carreira, uma villa - casa rural romana com todas as suas dependências - e também uma necrópole.
Portanto não é de estranhar que sendo carreira um nome latino (que quer dizer via para passar carro), e existindo entre nós um troço de uma larga via aparelhada - que chamamos o caminho das oliveiras - pudéssemos ter um conjunto assinalável de infraestruturas romanas. A nossa carreira tem perfil semelhante ao de outras classificadas (v. links), também é ladeada por oliveiras, aliás o símbolo romano da paz e mais geralmente o signo do Mediterrâneo, como afirmava o geógrafo Orlando Ribeiro. O aparelho do poço, ao lado da carreira, é uma estrutura notável na perfeição do corte, e bem pode ser de origem romana, replicado ao longo do tempo, conforme se mostra nas cores diferentes das pedras que o formam.